A relação mãe e filho no filme O Quarto de Jack

nov 13, 2024

Joy e seu filho Jack vivem isolados em um quarto desde que ela foi sequestrada e a mãe faz tudo para garantir um bom ambiente para o filho, protegendo-o do horror ao seu redor, além disso, Joy impede qualquer interação entre Jack e o sequestrador, fazendo com que o menino vá dormir dentro do armário todos os dias às 21 horas. Jack acredita que o mundo se resume ao “Quarto” assim mesmo com letra maiuscula, pois para ele, não é um quarto qualquer: é o Quarto, a Mãe, a Cama, o Armário. Assim, os substantivos se transformam em nome próprio pois são únicos.

Nesse contexto, Joy e Jack formam uma unidade em equilíbrio perfeito. O nascimento de Jack traz para Joy o desejo de permanecer viva, mas ao fazer 5 anos Jack se revolta com a falta de velas em seu bolo de aniversário e acusa a mãe de não ser boa o suficiente. Ali Joy percebe que é hora do movimento.

Quando executam o plano de Jack se fingir de morto para o Velho Nick levá-lo para fora, a metáfora é óbvia: ali acontece o nascimento do menino para o mundo/cultura. Nessa fuga ele leva um pedaço da mãe, um dente podre que havia caído.

O Quarto de Jack é um dos meus filmes favoritos e recentemente li o livro, que é narrado sob a perspectiva do menino, enfatizando o processo de separação entre mãe e filho. Até então, o menino nem sabia que sua mãe tinha um nome próprio, mas agora descobre que ela é mais que apenas “Mãe”: ela tem nome, família, casa e memórias. Com a chegada de outras pessoas em suas vidas, Jack percebe que, no mundo lá fora, eles não são mais uma unidade. Quando Joy ganha um presente, ele se dá conta: “Eu não sabia que era dela-não-meu. No Quarto, tudo era nosso.”

Aos poucos, o menino vai percebendo, não sem sofrimento, que é um sujeito: “O que eu queria dizer é que pode ser que eu seja humano, mas também sou um Eu-e-a-Mãe. Não conheço uma palavra pra nós dois.”

Em um final lindo, mãe e filho retornam ao Quarto para uma despedida e Jack que àquela altura já estava se adaptando à nova vida percebe o quão pequeno aquele espaço realmente, afinal o mundo tem muito a oferecer. Em meio à crise, Joy desabafa:

“- Eu não sou uma boa mãe.

– Mas você é a Mãe.”