A ambiguidade da estrela na Calçada da Fama em Hollywood, desde o prestígio de recebê-la até se tornar apenas mais um pedaço de rua que se desgasta com o tempo: assim começa o filme A Substância, que conta a história de uma atriz e musa fitness que, ao chegar aos 50 anos, vê-se substituída por alguém mais jovem e mais bonito — no caso, uma versão dela mesma!
Quem é mulher entende bem o imperativo da beleza e juventude que nos é imposto desde sempre, e cada vez mais. A escolha da lindíssima Demi Moore para esse papel soa quase como uma autobiografia. Se existem soluções para todos os sinais de envelhecimento, elas não substituem o corpo envelhecido, apenas o transformam em algo submetido à tão falada harmonização.
Isso me lembrou de uma vez em que fui a uma dentista para fazer uma simples limpeza e saí de lá com um orçamento para preenchimentos e liftings — todos não solicitados! A dentista, que me convidou para sentar enquanto tomava seu cafezinho, fez uma avaliação minuciosa do meu rosto. Inclusive, tínhamos idades próximas, e ela fez questão de dizer que estava “melhor” que eu, kkk! Entrei para limpar os dentes e saí sem autoestima! (Não sou contra procedimentos estéticos; já fiz alguns. Mas tenho aquela característica básica e às vezes rara: bom senso!)
Voltando ao filme, a tal harmonização, quando mal conduzida, gera algo entre o bizarro e o ridículo, e é disso que a história trata até as últimas consequências. Além disso, a maneira como os homens são retratados no filme é um show à parte, uma crítica muito bem colocada! Essa obsessão neurótica por harmonia, equilíbrio, sobriedade, pela “melhor versão de nós mesmos” é apenas uma ilusão — sempre sobra um resto podre que fica por ali. Que bom seria poder abraçar nossos monstros.