É Assim que Acaba tem algo a nos ensinar

nov 25, 2024

Contém spoiler!

Colleen Hoover, autora de É Assim que Acaba, é um fenômeno literário. Com mais de 30 milhões de livros vendidos, ela se tornou uma sensação nas comunidades de literatura das redes sociais.

A história de É Assim que Acaba parece, à primeira vista, ser apenas mais um romance em que duas pessoas se encontram por acaso em um momento difícil e iniciam uma história de amor. O charme de Ryle, um neurocirurgião lindo, bem-sucedido e interessante, faz com que o leitor desavisado torça para que Lily, uma jovem rebelde e desconfiada, aceite esse amor. Mas, para quem é mais atento ou já ouviu o ditado da avó, “por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento”, ou ainda a famosa frase do poeta, “não era amor, era cilada”, o desfecho é menos óbvio. Havia sinais.

Enfim, era uma cilada. Ao longo da livro, Ryle revela ser uma pessoa agressiva. E é aqui que a história de Hoover fica interessante: tanto Ryle quanto Lily são personagens ambivalentes, carregados de traumas de infância que moldam seus comportamentos. Lily reencontra seu primeiro amor, que a deixa dividida e atormentada. Já Ryle, apesar de encantador, é ciumento e tem dificuldade em controlar seus impulsos.

“Por que você ficou?” Essa é, talvez, a pergunta mais crucial, a que Lily faz à mãe ao tentar entender por que ela permaneceu em um relacionamento abusivo com o marido.

O livro aborda uma questão delicada: a divisão entre caráter e sintoma. Uma separação impossível! É correto culpar alguém por suas ações ou justificá-las com base em traumas e diagnósticos? Quando se trata de agressão, compreender a motivação de um comportamento não significa aceitá-lo. Essa ambivalência é própria do ser humano e em tempos de polarizações e respostas fáceis, simplificam debates tão complexos. 

A história é polêmica e desperta paixões. Sua ambiguidade provoca uma angústia que serve como motor para as decisões difíceis. Não é sem sofrimento, sem amor e, sobretudo, sem perdas que Lily decide romper a relação com Ryle.

O título, It Ends with Us foi traduzido para É Assim que Acaba. Porém e dá a ideia do encerramento que a personagem se propõe. Cessar as repetições, não só, mas também é uma decisão.