“A única alegria do rebanho é quando o lobo come a ovelha do lado” ou: por que nos interessamos tanto por true crime?
Acabei de assistir a série Monstros: Irmãos Menendez, a história de dois irmãos que mataram os próprios pais e depois tentaram diminuir a pena no tribunal. No primeiro julgamento o júri ficou dividido: as mulheres votaram por legítima defesa, enquanto os homens votaram por homicídio doloso. Isso porque os acusados falaram dos abus0s que o pai cometia com a conivência da mãe – abusos psicológicos, morais, físicos e sexuais.
Será que as mulheres conseguem ver as pessoas de um jeito mais integrado? Porque, nesse caso, estamos falando de dois parricidas que sofreram todo tipo de violência e humilhação e encontraram essa saída para o sofrimento. No fim, os papéis de vítimas e criminosos acabam misturados. Não é à toa que nos presídios masculinos tem fila de mulheres (mães, esposas, avós, irmãs) para visitar, enquanto nos presídios femininos isso praticamente não existe. Essa capacidade de compreensão das mulheres, que pode parecer uma vantagem, também as deixa mais vulneráveis a golpes e violências. E aí entra o true crime, que acaba nos ensinando a reconhecer sinais de perigo antes de algum mal maior. True crime como prevenção.
Acho que também nos leva a perceber que qualquer pessoa comum é capaz de coisas inimagináveis. Sim, qualquer um que perde o que nos faz humanos, aquele freio social, pode virar um monstro. E, dependendo das circunstâncias, esse monstro pode aparecer em qualquer um de nós. Sabendo que ele existe, a gente lida melhor com isso. True crime como elaboração.
Enfim, tem o lado fetichista da coisa: assistir a desgraça dos outros, aquela diminuída na velocidade pra ver o acidente, ficar esperando a próxima cadeirada. True crime como espetacularização da vida alheia.
No fim das contas, o fascínio pelo true crime talvez seja só uma forma de lidar com nossos próprios medos e curiosidades, tentando entender o que nos torna humanos e o que nos leva a perder essa humanidade.